POETICO


Conheces ?
De mim afastas o teu rosto ?
Pois tanto pode o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu

Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro: 
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar !

Adeus, qu´eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo 
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida, 
Ouvir-te a voz comovida 
Soluçar um breve Adeus !

Lerás porém algum dia 
Meus versos, d´alma arrancados,
D´amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiede,
Que choras, não de saudades,
Nem de dor, - de compaixão
Enfim te vejo: - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te 
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei. Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti ! 

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz !
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz !

Louco, aflito, a saciar-me
D`agravar minha ferida,
Tomou-me tédio de vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp`rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi !

Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora !
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido
E este pranto dolorido
Deixar correr a ti.

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